Gerson Mourão, diretor-presidente da Fcecon e único membro da região norte da Academia Brasileira de Mastologia. Deflagra em Manaus um movimento que levou para as três esferas (municipal, estadual e federal), resolver a maior exclusão medica social dando o Direito as mulheres, brasileira do SUS terem o mesmo direito das mulheres do plano Privado qual seja, fazer sua mamografia a partir dos 40 ANUAL e não a partir dos 50 BIANUAL. Este fato terá repercussão mundial. Pois a mamografia permite diagnóstico precoce em 95% das vezes, salvando vidas e preservando mamas.
Quais são os principais desafios do Amazonas no enfrentamento do câncer?
GM: O maior estado brasileiro em extensão territorial convive com um obstáculo que já tem nome: o “fator amazônico”. São distâncias imensas, rios que funcionam como estradas e uma logística que dificulta o acesso da população a serviços de saúde especializados. O Amazonas tem mais de 1,5 milhão de km² e 4,28 milhões de habitantes. Metade vive em Manaus; a outra metade está espalhada em pequenas comunidades no interior.
Esse cenário pesa diretamente no tratamento do câncer. Hoje, sete em cada dez pacientes oncológicos recebem o diagnóstico apenas em estágio avançado. As chances de cura diminuem, os tratamentos se tornam mais caros e dolorosos, e, em muitos casos, o desfecho é inevitável. Não é falta de tecnologia — o estado dispõe de cirurgias, quimioterapia e radioterapia —, mas de diagnóstico precoce. Para agravar, existe apenas um hospital público de referência em oncologia: a Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), em Manaus, que atende não só amazonenses, mas também pacientes de outros estados da Região Norte e até de países vizinhos.
Esse problema é exclusivo do Amazonas ou tem alcance global?
GM: Não é apenas um drama amazônico. O câncer é um desafio mundial. As projeções indicam que os casos subirão de 20 milhões, em 2022, para 30 milhões, em 2040. E metade dessas pessoas morrerá simplesmente por não ter acesso a um diagnóstico precoce.
A frase atribuída a Einstein cabe bem aqui: “é insano fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. Continuamos a enfrentar a doença da mesma forma que há séculos, tratando pacientes em fases avançadas. No século XVIII, eram mutilações e longas internações. Hoje, mesmo com todo o avanço da ciência, muitos ainda não sobrevivem porque chegam tarde demais ao sistema. Precisamos mudar essa realidade.
E o que pode mudar esse cenário no Amazonas?
GM: A proposta mais concreta em discussão é a criação de Centros de Diagnóstico do Câncer no estado. A ideia é descentralizar e agilizar o atendimento, permitindo exames e biópsias logo nos primeiros sinais da doença. Seriam dois centros: um em Manaus e outro em Tefé, no coração geográfico do estado.
Em Tefé, pacientes do interior teriam acesso à triagem e diagnóstico, sendo encaminhados à FCecon apenas para o tratamento especializado. A escolha do município tem forte simbolismo: aproximar a saúde das populações ribeirinhas e interioranas, reduzindo distâncias e desigualdades.
O impacto seria enorme. Para o SUS, diagnósticos precoces significam tratamentos mais curtos, menos mutilantes e mais baratos. Para os pacientes, dignidade e esperança. O projeto, quando efetivado, não será apenas um prédio de saúde: será um divisor de águas, um passo concreto contra a lógica cruel de deixar a doença avançar para só então agir. E, acima de tudo, será um compromisso com a vida, a vida amazônica, a vida brasileira.
