Manaus (AM) – O implante do silicone é o procedimento mais procurado entre as pacientes que desejam aumentar ou firmar os seios e, assim, aumentar também a sua autoestima e aparência. No entanto, devido a resultados inesperados há vários registros de mulheres que se arrependem do procedimento, seja por razões médicas ou estéticas.
No Brasil, o número de casos de mulheres que realizam a retirada do silicone tem crescido cada vez mais nos últimos anos.
Conforme especialistas, entre as maiores motivações para o arrependimento das pacientes estão as complicações de saúde que surgem após a cirurgia. Em algumas mulheres os problemas surgem de imediato, outras sentem as complicações anos após o implante, como ocorreu com a fisioterapeuta Ludmilla Heine.
“Eu passei uma década doente não sendo validada pelos médicos com as minhas dores, com os meus sintomas e cada vez tendo sintomas que me deixavam sem andar. E tendo diagnósticos bem perigosos, inclusive câncer de mama. E a minha vida foi parada. O lado bom de tudo isso é que de tanto fazer fisioterapia eu me tornei fisioterapeuta. Eu prometi a mim mesma que as pessoas que passassem por mim iriam ser vistas, elas iriam ser validadas, elas iriam ser olhadas sobre as suas dores os seus sintomas”,
contou.
Ludmilla contou à reportagem que na época em que colocou o silicone não havia informações sobre os problemas que aquele sonho poderia lhe causar. Para ela e muitas pacientes o procedimento era altamente seguro. Entretanto, infelizmente ela precisou passar por um longo processo de dor até descobrir o que de fato estava acontecendo.
“Não é uma questão de ser contra o silicone, mas é algo que as mulheres que colocaram, como eu, no início do ano 2000, a gente não teve acesso à informação de que o silicone é perigoso, que ele é vitalício. A gente achava que era a coisa mais segura do mundo. E botar esse plástico no corpo, e quando tem o rompimento, a intoxicação no corpo todo, que infelizmente quando espalha, não pode tirar. Então, elas vão ficar sofrendo com a dor até morrerem”,
relatou.
Sintomas da doença do silicone e frustrações
Os principais sintomas que a doença do silicone, conhecida como síndrome de ASIA, são dores crônicas. Além disso, existe a rejeição do implante, a fadiga, problemas imunológicos e até mesmo o câncer de mama.
Em outros casos que levam as mulheres a realizar o explante, os motivos são as frustrações com o resultado, como assimetria, deformidades, a aparência artificial e o desconforto de estar carregando um objeto estranho no organismo. Para a fisioterapeuta, o problema de saúde foi o que mais lhe afetou.
“Quando eu descobri a possível causa da minha doença em julho de 2020, foi através de um vídeo. Eu ouvi que poderia estar com o mesmo problema, porque a pessoa tem a doença do silicone e pode ter a síndrome ASIA (síndrome autoimune-inflamatória induzida por adjuvante)”, relata.
De acordo com dados levantados em uma pesquisa realizada em 2017 pela Sociedade Brasileira de Cirurgia, 39% das mulheres se arrependeram de realizar o procedimento estético.
Ainda com base nas informações, a principal motivação para o arrependimento foi a insatisfação com o resultado estético. Diante disso, algumas pacientes buscam pela cirurgia de remoção do implante.
Movimento contra silicone nas redes sociais
Diante do aumento nos casos de arrependimento do implante de silicone, muitas mulheres criaram nas redes sociais grupos e páginas com o intuito de acolher e explicar sobre os diversos pontos negativos da cirurgia.
Mulheres que além de compartilharem suas experiências, também contam com explicações de especialistas para embasar as pautas levantadas sobre o assunto.
O perfil ‘Apoio ao explante’, criado por Ludmila, conta com mais de 800 seguidores. Nele há vários relatos de pacientes que viveram o sonho e o pesadelo do procedimento. A fisioterapeuta explicou que a dificuldade no diagnóstico e a falta de informação que encontrou em muitas consultas, a fez criar o movimento na rede social.
“Primeiro que eu dizia para o meu próprio médico que fez meu implante, que poderia ser o silicone que estava causando [dores] e ele ria de mim. Como é uma doença sistêmica que você vai para muitas especialidades, quando eu levantava essa questão muitos não sabiam sobre isso. Muitos médicos não sabem sobre essa doença ou sobre a síndrome asia, ou sobre as informações do que o silicone pode causar”,
disse.
Atualmente a página de apoio foi desativada no Instagram, porém, mulheres podem buscar as informações através da página do facebook.
O arrependimento entre as celebridades
Buscando sempre atender as tendências estéticas muitas famosas entraram na “onda” do silicone, entretanto após se depararem com resultados que não atenderam suas expectativas tanto pessoal como profissional, algumas falaram sobre as razões do arrependimento.
A cantora Manu Gavassi contou durante uma entrevista no canal da apresentadora Giovanna Ewbank sobre o arrependimento da decisão impulsiva de colocar silicone.
“Eu fiz uma plástica que me arrependo muito, que foi ter colocado silicone. Sabe quando você não está bem com você mesmo, tipo, na sua vida? E aí você se olha no espelho e enlouquece, coloca isso na sua aparência. Eu já gostava do meu corpo do jeito que ele era, não tinha necessidade nenhuma (de fazer a cirurgia), acho que dei uma pirada legal. Então, quando lembro disso, penso: “Caraca, eu fiz uma cirurgia que eu nem tinha tanta vontade, que nem precisava na minha cabeça, por pressão externa, que é pra ter uma beleza estética perfeita nesse meio o tempo inteiro”,
, disse Manu.
Além da cantora, a apesentadora Xuxa Meneguel também contou em uma entrevista que se arrependeu do implante de silicone nos seios. Xuxa conta que a cirurgia foi além do que desejava, ela acabou sendo submetida à outros procedimentos que não queria.
“Quando a Sasha tinha três anos, resolvi colocar prótese de silicone para ficar com o peito como estava quando eu amamentava e achei bonito. Me fez muito mal porque a pessoa colocou mais do que devia, tirou gordura e colocou em outro lugar, e fez botox sem eu querer. Fique bastante decepcionada com o resultado. Foi uma loucura o que fizeram comigo”,
explicou.
Gisele Bundchen, Deborah Secco, Fernanda Vascocelos, a influencer Evelyn Regly também foram celebridades que se arrependeram do procedimento.
O silicone na história
Se tornando o silicone mamário na década de 1950, a prótese para os seios só ficou mais comuns na década de 1960. Desde então, houve muitos debates sobre a segurança dos implantes, por isso, em muitos países houve restrições e até mesmo proibições ao uso do material estético.
Em uma publicação em 2021 as Sociedades Brasileiras de Reumatologia (SBR) e de Cirurgia Plástica (SBCP) realizaram uma campanha contra desinformação acerca da “Síndrome do Silicone” (ASIA). Com o intuito de compartilhar com o público geral informações seguras e esclarecimentos sobre os mitos da Síndrome ASIA (Autoimmune Syndrome Induced by Adjuvants).
“A doença é uma síndrome autoimune/inflamatória induzida por adjuvante. Adjuvantes são diferentes substâncias que podem estimular a resposta imunológica. Algumas substâncias, como o silicone, podem atuar como um adjuvante. Assim, embora muito raramente, o silicone das próteses mamárias pode ser o gatilho para o desenvolvimento de resposta inflamatória ou autoimune em pessoas com predisposição genética”,
diz o estudo.
Relatada pela primeira vez em 2011 pelo médico israelense Yehuda Shoenfeld, a suspeita da síndrome ASIA geralmente surge em pacientes com implante de prótese mamária de silicone que apresentam queixas como dores articulares, musculares, fadiga, e até mesmo neurológicas. No entanto não há exames laboratoriais, de imagem ou uma avaliação diagnóstica validados e aceitos mundialmente para esta síndrome.
“Embora a ocorrência da ASIA induzida por silicone seja rara, como a prótese mamária de silicone vem sendo realizada nas últimas décadas com maior frequência, vale o alerta que pode desencadear resposta inflamatória ou autoimune em pessoas geneticamente predispostas”,
esclarece a especialista Dra. Emília Sato, professora titular de Reumatologia da Escola Paulista de Medicina (Unifesp) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia.