Em nossa viagem por meio desses textos sobre a história do vinho, chegamos hoje à França, terra de Napoleão e país europeu berço de muitas variedades e de diversas técnicas pioneiras na indústria vinícola. Certamente, a qualidade dos vinhos franceses é tão boa, que a França inspirou o mundo a fazer vinhos como os seus.
Outros países produzem vinhos de qualidade similar a de algumas regiões, mas ainda assim, os rótulos com o ‘padrão França’ são diferenciados e especiais.
Como surgiu o vinho na França ?
O surgimento do vinho na região é incerto, não há uma data precisa. Na França, considera-se que o primeiro contato com o vinho em território francês se deu com a vinda dos gregos para Marselha em 600 a.C. que passaram a comercializar o vinho com os nativos.
Já o surgimento dos vinhedos, é atribuído aos romanos. Como eles eram acostumados a impor sua cultura nos países que conquistavam, na França não foi diferente. Por lá também plantaram vinhedos.]
Acredita-se que inicialmente os vinhedos foram feitos em Bordeaux, mas rapidamente se espalharam por diversas regiões da França como a Borgonha.
Para conseguirmos imergir nesse universo do vinho na França, teremos que dividir nosso viagem em alguns episódios, diante da riqueza e das regiões que compõe o cenário vínico francês, afinal, França é sinônimo de vinho e vinho é sinônimo de França.
Iniciaremos nossa viagem por estas terras por uma região simplesmente exuberante: Borgonha.
Situada no centro-leste da França, a história da Borgonha foi construída através de muitas civilizações, como os povos celtas das tribos dos gauleses, romanos e galo-romanos. Mas foram os bárbaros— francos e burgúndios—que teceram os principais capítulos dessa história francesa.
Vinhedos da Borgonha
Na Borgonha, as protagonistas são duas das uvas mais apreciadas do mundo, a Chardonnay, a rainha das brancas, que representa quase metade dos vinhedos locais, e a tinta Pinot Noir. Mesmo que muitas vezes não esteja descrito no rótulo do vinho, quase sempre um tinto da Borgonha será feito 100% com Pinot Noir, e um branco será monovarietal de Chardonnay.
Uma curiosidade interessante sobre os vinhos borgonheses é que eles estão em qualquer lista dos mais valorizados do mundo. Um dos principais motivos para os seus preços elevados, é, além da indiscutível qualidade, a raridade, porque suas produções são muito limitadas, o que faz os preços chegarem a até mesmo quatro a cinco dígitos de dólares.
Distante apenas duas horas de Paris, tem em média 100 denominações diferentes de origem dos vinhedos, cada uma com suas regras específicas e recheadas de tradições locais. Essas denominações se dividem em quatro níveis, que são:
Grand Cru :
Esses estão no topo da lista, vinhos exclusivos que correspondem a menos de 1% do território de produção. Nas garrafas, o local de origem desaparece, e o destaque fica para o nome do climat (terreno de vinhas demarcado há séculos, de forma cuidadosa e estudada. Cada um deles tem a sua condição climática, geológica, gosto e características próprias).
Premier Cru
Representa 10% dos vinhos da Borgonha. São vinhos de climats de qualidade superior dentro dos vilarejos. Nos rótulos, o nome do local vem acompanhado do climat. Village. é o vinho que recebe o nome da sua vila de origem, e representa 37% da produção local.
Régionale
tem 52% da produção de vinhos borgonheses. Esses rótulos carregam no nome algumas das sub-regiões da Borgonha. Apesar de receber o título de uma das grandes produtoras de vinho da França, seus vinhedos correspondem a apenas 3% do total existente no país. Isso quer dizer que, quando se trata dos vinhos borgonheses, não se fala em quantidade, e sim, em qualidade!
Pinor Noir
É a uva principal da Borgonha, o que faz seus vinhos serem tão procurados e valorizados mundo afora. São os melhores do mundo, e quanto a isso não há discussão. É a sensualidade que existe por trás de seus aromas terrosos e frutados que fez deles os mais famosos – são referência no mundo todo.
O segredo de tanta leveza e elegância? A localidade. O clima é ideal para o desenvolvimento da videira, mas isso não é o único fator. Borgonha é a região posicionada mais a norte do globo para os tintos, além de também ser a de clima mais ameno.
Por um lado, isso faz com que os tintos exalem frescor. Por outro, que as instabilidades do clima dificultem a chegada ao ponto ideal de maturação das uvas, o que significa que cada safra será completamente diferente da outra (mas isso não é de todo mal, afinal, quem quer o mesmo vinho todos os anos?
Vinho branco na Borgonha?
Se a Pinot Noir fez a fama dos vinhos da Borgonha, a Chardonnay os honrou com toda a elegância com que brota em sua terra natal, algo que parece fazer parte da natureza dos vinhos que lá nascem. Por vezes é lembrada, sobretudo quando se fala nas renomadas denominações de Pouilly-Fuissé e Chablis.
Mas poucos sequer ouviram falar na Aligoté. Não só é a casta menos cultivada da Borgonha, como também é pouco explorada no mundo – mas isso não significa que não existam grandes vinhos feitos com a cepa. Onde eles estão? Exatamente lá! São vinhos brancos extremamente delicados, com acidez altíssima e de cor bem clarinha. Os mais simples e baratos são por vezes servidos em forma de drink feito com creme de cassis.
Uma volta por Borgonha
Para quem passeia pela região, nota uma característica bem marcante. Os vinhedos são cultivados em lotes menores. Borgonha é a mais fragmentada das áreas vitiviníferas da França, com inúmeras pequenas propriedades cercadas por muros de pedras construídos na Idade
A paisagem, por conta disso, muda, mas não deixa de ser igualmente interessante. Ao contrário, o caminho é cheio de castelos medievais encantadores e vilarejos pitorescos.
Apelidada de “Champs Elysées da Borgonha”, a rota dos grandes vinhos da região fica entre Dijon e Beaune, tem 60 km e passa por 37 vilarejos.
Entre eles está Vosne-Romanée, na Região de Côte D´Or, onde fica a vinícola Romanée-Conti e os seus vinhedos mais bem avaliados do mundo. Ali, num pedacinho de mundo correspondente a 1,8 hectares, nascem os vinhos tintos mais caros do planeta.
Curiosidades sobre a região
- Apesar da fama mundial dos vinhos feitos com Pinot Noir, mais da metade da produção da Borgonha é de brancos. Esse número corresponde a 62% da produção, e os tintos e rosés ficam com a parcela de 30%. E na Borgonha também há espaço para o espumante, o famoso Crémant de Bourgogne, que fica com 8% do total da produção.
- O nome de destaque nos rótulos dos vinhos borgonheses não é o do produtor, mas do vinhedo de origem das uvas.
- De acordo com os registros históricos, os vinhos da Borgonha são anteriores aos romanos, mas foram eles que dedicaram-se de fato à viticultura na região. E na Idade Média, os monges cistercienses desenvolveram as técnicas, deixando os vinhos mais parecidos com o que se conhece atualmente.
- Além dos produtores, a Borgonha tem a cultura dos negociantes, chamados de négociants-éleveur. São eles que envelhecem o vinho, e também muitas vezes são responsáveis pelos contratos com produtores, a seleção de uvas nos vinhedos, a vinificação e a venda.
Gostou de conhecer um pouco mais sobre a Borgonha, terra de alguns dos vinhos mais famosos do mundo? Nós adoramos poder compartilhar com vocês um pouco desta história.
Um abraço, um brinde e até a próxima!! Você pode encontrar muitos rótulos franceses na na @dsmvinhos.
Leia mais:
A excelência do vinho da Espanha
Vinho Italiano – Cultura e Tradição
A história de sucesso da Cachaçaria do Dedé