Não faz muito tempo, vivíamos no Amazonas uma tragédia humanitária sem precedentes causada pela pandemia de Covid-19. Sem oxigênio para garantir a sobrevivência dos pacientes, a única saída era levar para outros estados centenas de pessoas para que literalmente pudessem respirar. Quem não conseguiu embarcar, sucumbiu. Perdemos parentes, amigos, milhares de vidas. Alguém poderia dizer de imediato: Ah! Mas isso aconteceu no mundo inteiro.
Agora, voltamos a assistir atônitos ao quadro desesperador da estiagem. Fome, miséria, fumaça de queimadas criminosas e impunes, cidades ribeirinhas isoladas, mortandade de peixes nunca dantes vista e o drama da busca aflitiva pela água para beber.
Imagens que, assim como na época da pandemia, reverberam na imprensa nacional e internacional mostrando que no Amazonas, estado que mais preserva a floresta em pé, a população do estado vive sob a égide da tragédia.
Não temos como enfrentar e mitigar desastres ambientais. É fato. Não planejamos, nem nos antecipamos às tragédias. Simplesmente, esperamos que elas aconteçam e deixamos que o mundo veja e tire as suas conclusões, na maioria distorcidas. Aqui perto, em Belém (PA), a vida transcorre tranquila, com o outubro de fé celebrando a Virgem de Nazaré em uma procissão fluvial. Sim, senhores, lá o rio não desapareceu, o céu continua azul e a fumaça das queimadas não se faz presente.
Manaus, por sua vez, está doente novamente, com a população sufocada, sem ar e lotando postos de saúde e hospitais. Como entender essa lógica de pensamento das autoridades públicas, nas diferentes esferas? Elas foram eleitas por nós e precisam ser cobradas. As vítimas somos nós, que estamos respirando isso. Situação insuportável, um atentado à vida.
O Corpo de Bombeiros assume a falta de pessoal de combate para apagar os incêndios que são criminosos. Os órgãos de fiscalização e controle ambiental não chegam aos culpados, nem conseguem (será?) identificar os proprietários dessas áreas em que são registrados focos. A exposição desses nomes e a aplicação de multas seriam um alento. Resolver mesmo só apagando as chamas.
Todos sabem que aqui temos o período de intenso calor, de estiagens e queimadas. Alguma coisa aconteceu e certamente o poder público falhou, e falhou feio porque expõe a falta de planejamento, de prevenção, para antever o que poderia acontecer e até piorar, como aconteceu em 2023 e pode piorar ainda mais no próximo ano.
Só para ficar em dois casos observados, na capital, por exemplo, parece que as pessoas odeiam chafarizes nas praças, que existem em grande quantidade nas cidades europeias, para enfeitar pontos turísticos e ainda melhorar a qualidade do ar. Outra coisa simples é a determinação para que carros pipas percorram rotineiramente as principais avenidas e praças da cidade despejando jatos para salvar gramas e árvores, além de minimizar o calor e os efeitos da fumaça que cobriu totalmente a cidade, atormentando a vida da população.
Tudo é válido, menos a omissão e o esperar pelas chuvas, ou achar que isso é normal. Pulverizadores e aspersores em vias públicas poderiam amenizar, mas o que poderia fazer a diferença para o futuro seria uma urbanização humanizada e planejada, com plantios e tratamento de milhares de árvores envolvendo a população, cuja maioria não possui sequer um pé de couve plantado para fazer sombra.
Manaus, cidade próspera, mas que enfrenta o triste problema do isolamento. Com os preços mais altos de passagem para quaisquer trechos aéreos do País, a gasolina mais cara do país. Frutas, verduras e legumes com baixas ofertas ou qualidades e altos custos. Pagamos o preço desse isolamento, num calor senegalês.
Não bastando isso, temos que conviver respirando fumaça, esperando pelas próximas eleições. Ou chamando de volta os cantores famosos que percorrem o Amazonas em shows que trazem “circo” ao povo em troca de valiosos cachês. É, companheiros, não está fácil…