Ainda não há consenso sobre um caminho que responda a esses questionamentos com garantia de certeza e/ou segurança. O não consenso, nesse caso, parece expressar a existência de diferentes caminhos e de caminhos plurais.
Como abordarmos, por exemplo, os preocupantes índices de gravidez na adolescência? Como trabalharmos em nossas escolas os dados que apontam para o alto número de abortos entre jovens de 15 a 19 anos? Há relações possíveis de serem estabelecidas entre esses indicadores e a nossa comunidade? E como discutir as relações entre impostos e cidadania?
Questões como essas podem compor o currículo escolar? Perfeitamente. E sem nenhum prejuízo aos saberes consagrados nos conteúdos escolares. No entanto, torna-se necessário parar e pensar sobre os caminhos e alternativas didático-metodológicas possíveis para ampliar e potencializar os saberes e as vivências na escola.
Possivelmente, essa compreensão figura entre os maiores desafios dos sistemas de educação no Brasil: construir uma concepção de ação educativa que atenda as múltiplas dimensões formativas do indivíduo e consolide a compreensão de que o currículo escolar se manifesta como expressão efetiva da vida, em contraposição à ideia de um “currículo prescritivo”, previamente elaborado e comprometido com avaliações futuras.
Uma escola à altura do seu tempo traz para si a responsabilidade de investigar as questões postas na realidade na qual se insere. Para isso, reorganiza-se como espaço social do diálogo, com base na equidade dos saberes, nas diferentes contribuições científicas, nas percepções do cotidiano humano e nas manifestações da cultura. Enfim, numa permanente busca de alternativas para as demandas de seu público.
Numa análise mais geral, a organização que ainda prevalece na maioria das escolas reflete uma concepção obsoleta de educação, de homem e de sociedade, onde o conhecimento é algo a ser transmitido, a aprendizagem é um acúmulo de informações, os conteúdos escolares são recortes do conhecimento científico, arbitrariamente considerados relevantes, e os professores são os que transmitem e os alunos são os que assimilam.
No entanto, há diversas escolas que desenvolvem atividades que extrapolam seus muros e as transformam em efetivos “centros de formação da cidadania”, como prevê a vigente Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Nesse processo, o entorno cultural da escola vira fonte concreta de pesquisas, aprendizagens e descobertas. Transforma-se em laboratório de experiências, fomentando as mútuas intervenções de alunos, professores, comunidade e produzindo as alternativas que podem interferir na qualidade social de vida de seus integrantes.
Vale ressaltar que a partir da perspectiva de currículo, os profissionais da educação terão maior facilidade de compreender que os temas sociais contemporâneos como fome, violência, pobreza, o fisco, os impostos e aplicação do recurso público, entre outros assuntos, estão absolutamente relacionadas ao papel da escola na formação humana dos educandos e, principalmente, às suas aprendizagens.
Sabemos que o conhecimento resulta de uma interlocução entre o aprendiz e as demais pessoas com quem convive – dentro e fora da escola -, nas relações que trava em seu contexto sociocultural, econômico e político.
Se é bem formado (e não apenas bem informado), tem a capacidade de organizar, relacionar, interpretar e (re)construir as interdependências entre os fatos vivenciados, as opiniões divergentes com que se depara, de lidar com as inúmeras representações que vão se constituindo ao longo da vida, com os inúmeros discursos que emanam das distintas esferas em que circula, e, enfim, de intervir na realidade, de (re)criar seus discursos e valores, sendo capaz de perceber como estes subjazem a suas ações.