Quem nunca fez a uma bolsa de água quente para aliviar uma dor muscular ou aquele incômodo nas costas? O uso de calor local é um dos remédios caseiros mais tradicionais, nossas avós já recomendavam as famosas compressas quentes, mas muitas pessoas ainda ficam em dúvida, será que a bolsa quente alivia mesmo ou é apenas uma crendice popular? Quando devemos usar o calor e quando é melhor evitar?
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Nesta segunda parte da série sobre compressas terapêuticas, vamos focar na termoterapia, o uso do calor como tratamento e esclarecer as principais dúvidas sobre quando usar a compressa quente, quando não usar, tempo ideal de aplicação, tipos de fontes de calor, cuidados necessários, diferenças para idosos e crianças, e se é melhor usar antes ou depois de exercícios físicos.
Vanguarda do Norte: Quando usar a compressa quente?
Dr. Ricardo Amaral Filho: A compressa morna tem eficácia comprovada em diversas situações de dor, principalmente nas dores musculares ou articulares de caráter crônico ou tardio, ou seja, depois da fase inicial de uma lesão . Isso porque o calor promove vasodilatação (dilatação dos vasos sanguíneos) e aumento do fluxo de sangue local. Na prática, isso ajuda a relaxar a musculatura tensa e a “limpar” substâncias inflamatórias acumuladas, acelerando a recuperação após a inflamação inicial . Por exemplo, tensões musculares e espasmos como no torcicolo ou nas dores lombares (aquele “mal jeito” nas costas) melhoram com bolsa quente devido ao relaxamento dos tecidos e alívio da contração muscular.
Outras indicações clássicas da compressa quente incluem as cólicas abdominais, como cólicas menstruais, o calor ajuda a diminuir os espasmos do útero e proporciona conforto na tensão pré-menstrual. Alguma inflamação localizada com pus, como furúnculos ou terçóis, também se beneficiam de compressas mornas, facilitam a drenagem do pus e aliviam a dor. Também em dores articulares sem inflamação aguda por exemplo, rigidez matinal em casos de artrose, a aplicação de calor melhora a flexibilidade e reduzir a rigidez. O calor é um apoio para relaxar músculos contraídos, aliviar dores crônicas ou subagudas e promover circulação em áreas machucadas já passadas as primeiras 48 horas do trauma.
VDN: Quando evitar a compressa quente?
Dr. Amaral: Em algumas situações em que o calor pode piorar o quadro e deve ser evitado.
A principal contraindicação é em casos de lesão ou trauma recente (fase aguda). Nos primeiros dias após entorses, contusões, pancadas ou qualquer lesão que cause inchaço e inflamação imediata, não use bolsa quente, isso dilata os vasos e pode agravar o edema (inchaço) e a vermelhidão. Ortopedistas da SBOT e médicos do esporte reforçam que nunca se deve aplicar calor logo após um trauma agudo, pois a tendência é inchar mais com o calor. Nesses casos, o indicado é a compressa fria (gelo) nas primeiras 24–48 horas para conter a inflamação. Não aplique compressa quente em áreas com infecção, feridas abertas ou cortes. O calor pode aumentar a disseminação de uma infecção e trazer mais fluxo sanguíneo para uma região já comprometida e jamais se deve colocar uma bolsa quente diretamente sobre uma ferida ou ponto cirúrgico. Também evite o calor se a pessoa estiver com febre ou calor corporal elevado, pois uma compressa quente pode elevar ainda mais a temperatura.
Outros cenários de cautela: pessoas com sensibilidade diminuída na pele (por exemplo,
pacientes diabéticos com neuropatia, ou pessoas com alguma paralisia) não devem usar
compressa quente sem supervisão, pois podem não perceber o calor excessivo e sofrer
queimaduras . Crianças pequenas e idosos também exigem cuidados.
VDN: Qual o tempo ideal e frequência da aplicação?
Dr. Amaral: Para obter os benefícios do calor e evitar acidentes, é importante respeitar o tempo de aplicação recomendado. Compressas quentes normalmente devem ser aplicadas por aproximadamente 15 a 20 minutos em cada sessão. Alguns especialistas sugerem que, dependendo da tolerância, pode-se estender até no máximo 30 minutos, mas não se recorda além disso. Aplicar calor por tempo muito prolongado não trará alívio adicional e apenas aumenta o risco de queimaduras na pele.
Quanto à frequência, geralmente recomenda-se usar a compressa quente de 3 a 4 vezes ao dia, fazendo intervalos de pelo menos 2 a 3 horas entre as aplicações. Dessa forma, a pele “esfria” e retorna à temperatura normal antes de uma nova sessão. Vale lembrar que mais aplicações não significam cura mais rápida, respeite os limites do seu corpo.
Em geral, em dois ou três dias de uso correto já se percebe melhora considerável nas dores musculares ou contraturas. Se a dor e o inchaço não melhorarem em poucos dias, ou se até piorarem, é sinal de alerta: procure avaliação médica.
Dica: nunca durma com a compressa quente sobre o corpo nem deixe aplicada por horas a fio. Controle o tempo (use um alarme se necessário) para não ultrapassar 20–30 minutos. E se a dor não diminuir ou até piorar mesmo com as compressas quentes, marque uma consulta médica para investigar a causa.
VDN: Quais os tipos de compressa quente existem?
Dr. Amaral: Existem diversas formas de aplicar a termoterapia. O método “clássico” é a bolsa de água morna de borracha, preenchida com água quente (não fervente) e fechada hermeticamente, uma forma de calor seco. Hoje também temos as almofadas térmicas elétricas, que aquecem ao ligar na tomada e permitem regular a temperatura, e as bolsas de gel aquecível (encontradas em farmácias), que podem ser colocadas em água quente ou micro-ondas conforme cada fabricante.
Uma opção caseira eficaz é a compressa úmida quente, você pode molhar uma toalha limpa em água quente (em uma bacia ou torneira) e aplicar sobre a área por alguns minutos. A água quente penetra no tecido da toalha e transfere calor úmido para a pele, o que pode aumentar a profundidade do aquecimento. Outra forma caseira é encher uma meia ou fronha com grãos (arroz, sementes ou feijão) e aquecê-la no micro-ondas por alguns minutos – isso cria uma espécie de “almofada térmica” artesanal que retém bem o calor. Uma toalha limpa aquecida com o ferro de passar roupas. Independentemente do tipo escolhido, sempre teste a temperatura antes de aplicar. A água ou bolsa deve estar quente o suficiente para trazer conforto, mas não tão quente a ponto de queimar a pele ao toque. Lembre-se que calor úmido (toalha quente, banho morno) tende a transferir calor mais rápido que calor seco (bolsa de água quente envolvida em pano), então ajuste a temperatura conforme o caso e cuidado com queimaduras.
VDN: Quais cuidados devo ter ao usar a bolsa quente?
Dr. Amaral: Cuidados importantes para evitar queimaduras e obter o máximo benefício:
Proteja a pele: nunca coloque a fonte de calor diretamente sobre a pele. Envolva a bolsa quente ou toalha em um pano ou tecido fino antes de encostar no corpo . Isso evita tanto queimaduras pelo calor excessivo quanto irritações, lembre-se que tanto o gelo quanto o calor podem machucar se em contato direto e prolongado.
Cuidado com a temperatura: verifique se a compressa não está quente demais. Uma dica é encostar a bolsa/tecido no antebraço (parte interna) ou na palma da mão para ver se está suportável. Nunca use água fervendo na bolsa; temperaturas em torno de 40– 50°C já são suficientes para o efeito terapêutico sem queimar a pele.
Tempo certo: limite cada aplicação a ~20 minutos. Não deixe a compressa no local por tempo indeterminado e não durma com a compressa quente aplicada para não se queimar.
Supervisão em crianças e idosos: em pessoas mais vulneráveis, acompanhe de perto o
uso da compressa. Crianças podem ter a pele mais sensível e não conseguir expressar que está quente demais, idosos podem ter menor sensibilidade térmica, ajuste a temperatura para morna (não muito quente) e fique atento o tempo todo.
Pele insensível ou com problemas: redobre a atenção se a pessoa tiver pouca sensibilidade na área (por exemplo, devido a neuropatia diabética ou sequelas neurológicas) estes casos, há maior risco de a pessoa se queimar sem sentir, muitas vezes recomenda-se evitar compressa quente nesses pacientes ou usar calor bem leve.
Não aplique sobre lesões na pele: não use compressa quente sobre cortes, feridas abertas, queimaduras ou infecções na pele.
Atendendo a estes cuidados, a termoterapia pode ser feita em casa de forma segura. A maioria dos incidentes ocorre por descuido com a temperatura ou tempo exagerado de uso da bolsa quente.
VDN: Calor antes ou depois do exercício físico?
Dr. Amaral: Devo usar compressa quente para “aquecer” antes do treino, ou é melhor depois do exercício para aliviar dores? Depende da situação. Vale a regra prática: gelo para lesões agudas, calor para dores musculares. Assim, se houver machucado ou entorse recente, use gelo imediato (protocolos como o RICE do ACSM recomendam gelo nas primeiras 48h após lesões), para dores musculares sem inflamação aguda ou rigidez muscular, o calor tem benefícios por exemplo, aplicar uma bolsa morna antes da atividade física pode complementar o aquecimento e melhorar a flexibilidade de um músculo ou articulação que estejam tensos. Já após o exercício, especialmente se foi muito intenso, costuma-se indicar gelo nas áreas doloridas para evitar inflamação e acelerar a recuperação (muitos atletas fazem “banhos gelados pós-treino”).
Atenção: Evite calor logo após uma lesão ou esforço pesado, pois pode agravar microlesões, prefira gelo nesse momento. Use a bolsa quente quando a fase inflamatória inicial já passou ou para relaxar a musculatura antes de se exercitar, conforme a necessidade.
Compressa Quente: Quando Usar × Quando Evitar
Para resumir, veja a seguir um quadro com as principais indicações e contraindicações do uso de bolsa quente:

Recomendações gerais:
– Gelo: nos primeiros dias de lesões agudas e inflamações (máx. 20 minutos, com pano).
– Calor: após 48–72h, para dores crônicas ou musculatura tensa (máx. 20 minutos,
morno).
Quando em dúvida: consulte um profissional de saúde.
A famosa bolsa de água quente, sim alivia dores e traz conforto, desde que usada na hora certa e com os devidos cuidados, calor terapêutico é indicado principalmente para dores musculares crônicas, contraturas e após a fase aguda de lesões, mostra os estudos e da prática clínica. Sociedades como a SBOT e a SBME orientam: gelo nos traumas agudos, calor nas fases subagudas ou nas dores crônicas, seguindo protocolos como os da American College of Sports Medicine (ACSM). Diretrizes internacionais, como as do NICE (Reino Unido), também recomendam o calor como adjuvante no manejo da osteoartrite e da dor lombar.
A compressa quente funciona, relaxa músculos tensos, melhora a circulação e acelera a
recuperação, na dúvida sempre procure avaliação médica.
Ficou com alguma dúvida sobre esse tema ou outro assunto de saúde e movimento?
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Dr. Ricardo Amaral Filho (@amaralfilho)
Mestre em Educação e Saúde | Médico de Família e Comunidade | Medicina do Exercício
e do Esporte | Professor de jiu-jítsu faixa preta.