Manaus (AM) – O mês de março foi escolhido como forma de homenagear as mulheres. Por conta da data, vale enaltecer o trabalho de figuras femininas que representam a força destas em diferentes setores na sociedade. O Vanguarda do Norte conversou com mulheres que se destacam por autonomia, empoderamento e profissionalismo em Manaus.
Em continuidade à série especial, desta vez, a voz é da deputada Alessandra Campêlo, da cientista Priscila Duarte, da jornalista e escritora Cristina Monte e da empresária Bete Dezembro.
Elas, que se dedicam para oferecer um ambiente de trabalho mais criativo ocupado por mulheres brilhantes e profissionais, além de liderarem equipes.
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Conquistando seu espaço
A luta da mulher para a ocupação de seu espaço na sociedade é diária. Embora os movimentos que defendem a mulher e sua inserção ao mercado de trabalho tenham crescido mundialmente, elas ainda passam por dificuldades em preenchê-lo.
Além da discriminação relacionada aos níveis sociais, a mulher sofre outros tipos de ataques como a violência psicológica, física, emocional, e pior se tornam quando a mulher é negra. Entre os citados, há tantos outros problemas sociais que as calam e as impedem de crescer profissionalmente tirando-lhes a liberdade.
Pensando nessa vertente, as entrevistadas afirmam que, para que a mudança possa acontecer é necessário apoio a essas mulheres. É necessário também defendê-las da violência, da fome, da discriminação e uma das portas de entrada para essa mudança são os estudos.
Por meio da educação, uma mulher de baixa renda pode mudar a sua história, ocupar seu espaço na política e no mercado de trabalho. A educação abre portas para grandes oportunidades, garantindo a elas melhor qualidade de vida.
No entanto, apesar de as mulheres serem maioria no ingresso à universidade, continuam ganhando menos que os homens e são minoria a ocupar cargos de chefia. Por isso, a busca pela equidade salarial.
Por conta desse resultado existem movimentos em busca dos direitos da mulher, que defendem a extinção dessa invisibilidade social e profissional em relação aos homens.
Portanto, o Dia Internacional da Mulher é para celebrar conquistas, mas também, para lembrar que ele representa histórias de lutas de muitas mulheres, e que algumas perderam a vida na busca pela igualdade de direitos e de emancipação feminina, que ainda não é plena.
É para lembrar que ainda há muito a ser conquistado, que o processo social democrático que garante a participação feminina na política torna-se mais representativo quando elas estão inseridas. Mesmo que ainda pareça lenta e tardia, a luta não acabou. Muitas lutas continuam!
A educação muda a vida de mulheres negras
As mulheres precisam quebrar diversas barreiras para a ocupação de espaços sociais. No caso das mulheres negras, as dificuldades se tornam ainda maiores diante de uma sociedade machista e racista.
No entanto, nos últimos anos, elas não se intimidam e, desde muito cedo, colocam-se no protagonismo, na busca de direitos, como a cientista Priscila Duarte, 30, que sempre viu a educação como meio de mudança e superação.
Vindo de uma família humilde, a jovem cientista e ativista amazonense falou sobre a trajetória e visão de mundo como mulher negra que superou as dificuldades e se tornou licenciada e mestra em Química e, atualmente, percorre o caminho de doutoranda em Ensino de Química pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
“Sou de uma família muito humilde. Meus pais são trabalhadores. Minha avó, por exemplo, nunca teve a oportunidade de ir à escola. Então a educação sempre foi muito importante na nossa vida. E o incentivo dos pais, é como se fosse uma obrigação, que a gente tinha a oportunidade, o direito de estudar. Não poderia deixar essa oportunidade passar”,
lembra.
Visão de mundo
De acordo com a ativista, a gravidez na adolescência é um dos fatores que fazem as mulheres negras abandonarem os estudos para se tornarem mãe e arcar com outras responsabilidades e, por consequência, muitas acabam por se submeter em trabalhos precários.
Essas circunstâncias acabam então por interromper o acesso a espaços como o da universidade, curso técnico e profissões que possam dar a elas mais condições e qualidade de vida, além da própria representatividade e ocupação da mulher negra nesses ambientes.
Lugar de mulher também é na política
A deputada estadual Alessandra Campêlo (PSC), que tem sido nome atuante na política amazonense, destaca que “lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive, na política e nos espaços de poder e decisão”.
Campêlo é conhecida na política, mas tem um vasto currículo. Ela é jornalista, formada pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), pós-graduada em Planejamento Governamental e Orçamento Público, além de ser policial civil concursada.
Mas foi na política que ela ganhou protagonismo e representa, de maneira exemplar, a classe feminina dentro da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), onde foi eleita, em 2014 para seu primeiro mandato. Na época, foi a única mulher a ocupar uma cadeira na Casa.
A política ainda é um ambiente ocupado em sua maioria por homens, mas o cenário tem mudado, porém, ainda em passos lentos. E, uma vez dentro dos parlamentos, elas conseguem ter um cuidado e um olhar mais especial à necessidade de mulheres na sociedade.
Campêlo é exemplo de que uma mulher na política pode ajudar de forma mais efetiva as outras. “A política também é lugar das mulheres, pois só com a nossa presença nos parlamentos podemos pautar os temas do nosso interesse”, disse.
A parlamentar ainda incentiva as mulheres a buscar indepedência financeira como forma de não se tornar vítima de relações violentas.
Incentivo ao empreendedorismo feminino
A jornalista e escritora Cristina Monte também destaca que a mulher está ganhando voz no mercado de trabalho, uma vez que, a luta por igualdade salarial ainda é lenta.
A também empreendedora fala sobre as dificuldades da desigualdade de gênero no mercado, porém, mostra que o momento atual da sociedade é um momento histórico, por conta da visibilidade que se há em pautas sobre grupos minoritários.
“A democratização dos meios de comunicação está dando mais voz, e as mulheres estão aproveitando a oportunidade para conquistar mais espaços na sociedade e no trabalho”,
afirma.
Crente nas melhorias da legislação brasileira em leis que dão apoio às mulheres no país, a escritora está sempre atenta aos dados sobre a participação da mulher no Brasil. Em 2018, criou a ‘Fala Comunicação e Negócios’, por meio da qual assessora empresas, associações e institutos de pesquisa para grandes eventos na parte da comunicação com imprensa.
No ano passado, a jornalista foi convidada para participar do 11º Fórum da Rede Mulher Empreendedora, na mesa ‘Empreendedorismo feminino da região amazônica’, em São Paulo.
A luta da mulher é uma realidade em que a empreendedora ressalta em qualquer oportunidade.
Vale lembrar que a jornalista vem de uma família pobre, que enfrentou dificuldades durante sua jornada e hoje atua em favor das mulheres que precisam de ajuda no mercado de trabalho.
Autonomia e empoderamento
Outra personalidade atuante no mercado de trabalho e que também se destaca pela autonomia e empoderamento, é a empresária Bete Dezembro.
À frente da Fábrica de Eventos há mais de 20 anos, a empresária Bete Dezembro é uma das maiores referências no show business brasileiro. Responsável por trazer grandes nomes internacionais à região Norte, como Guns n’ Roses, Scorpions e Kiss, recentemente ela se tornou sócia da Four Even Produções e Eventos, que gerencia diversos artistas brasileiros, como Gustavo Lima.
Ela ressalta a importância de ter mulheres em um mercado, que apesar de ser majoritariamente masculino, a presença feminina está cada vez mais forte.
A empresária enxerga que “empreender vai além de abrir um negócio ou criar um bom planejamento estratégico, é necessário ter uma visão diferente para olhar em sua volta e avistar novas oportunidades para inovar dentro de um mercado que, muitas vezes, está estagnado, ou seja, explorar novas formas de ter lucro”, ressalta.
Ao frisar a importância da inteligência emocional na hora de administrar os negócios, a paulista gosta de incentivar que as mulheres sejam suas próprias comandantes de vida.
“Eu acredito que uma mente boa me fez melhor profissionalmente e tentei levar isso para vida pessoal. Quando você consegue administrar essas questões tudo fica menos complexo. Eu aprendi que temos que cada vez mais procurar novos horizontes e que existe um mundo de possibilidades quando se trabalha de forma correta”,
finaliza.
Autores: Pedro Tukano, Guilherme Nery, Feifiane Ramos e Maiara Ribeiro