Recheada de pontos turísticos, Manaus é uma cidade que prospera no coração da floresta amazônica, praticamente no encontro entre os rios Negro e Solimões. Por esse motivo, é um dos principais destinos turísticos das pessoas que buscam ter contato com a natureza, conhecer as belezas naturais e a diversidade cultural – mostrada por meio da arquitetura e da arte local. Conhecida como Paris dos Trópicos, a capital amazonense surpreende com a infinidade de opções voltadas para o turismo que valoriza as belezas locais.
Para esse dia 24 de outubro, data em que Manaus completa 354 anos de existência, o Portal Vanguarda do Norte preparou uma reportagem com o intuito de apresentar os pontos turísticos que fazem parte da cultura e do turismo em Manaus. Os locais selecionados são considerados os principais integrantes no roteiro de quem visita a capital ou, até mesmo, de quem é nativo e deseja conhecê-la ainda mais.
Teatro Amazonas: a mais bela casa de ópera do Brasil
Palco de grandes espetáculos, o Teatro Amazonas é considerado como uma das 15 casas de ópera mais bonitas do planeta. Localizado no Largo de São Sebastião, no Centro de Manaus, o Teatro foi inaugurado no dia 31 de dezembro de 1896 e desde a sua inauguração surpreende e encanta os seus visitantes com o seu estilo neoclássico com influência do ecletismo de fins do século XIX.
Mantendo viva a memória do município e contribuindo para a identidade histórica, em 1966, o Teatro Amazonas se tornou o primeiro monumento tombado como patrimônio histórico em Manaus pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Desde a sua inauguração, o Teatro é palco dos mais variados tipos de espetáculos: óperas, músicas, peças de teatro, shows de cantores líricos e populares, festivais, grupos de danças e musicais, orquestras, shows de humor e outros.
Ao portal Vanguarda do Norte, o Secretário de Estado de Cultura e Economia Criativa, Marcos Apolo Muniz, ressaltou que o Teatro Amazonas foi e é de fundamental importância para a sua formação profissional e como pessoa pelas possibilidades que o proporcionou ao longo dos anos desde a primeira vez que ali pisou.
“Eu tenho uma paixão por esse lugar que é difícil até de descrever. Posso afirmar que conheço mais o Teatro Amazonas do que conheço a minha própria casa e certamente ele é um ícone da cultura do nosso Estado. Ele representa muito bem a história da cidade de Manaus e a história do Amazonas. A importância dele para a cultura vai além de um simples teatro e de um simples lugar onde as pessoas podem visitar. Ele tem um simbolismo muito forte e representa a sociedade amazonense e certamente é um orgulho de todos nós ter em nosso Estado e em nossa cidade o que é considerado o teatro mais bonito do país e um dos mais belos do mundo”, pontuou.
Administrado pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, o espaço é sinônimo da realização de um sonho para os artistas amazonenses de todos os gêneros. A atriz, professora de teatro, diretora e dubladora Erismar Fernandes não poupa palavras ao declarar o seu amor pelo Teatro Amazonas. Fazendo aniversário mesmo dia que o Teatro, Erismar pontua que a sua ligação com ele vem desde quando era criança, aos 4 anos.
“Na época, a minha mãe comprava ingressos do Titio Barbosa — grande nome do teatro na cidade na década de 80 — e íamos todo domingo assistir. Esse foi o meu primeiro contato com o teatro. Quando eu tinha uns quatro ou cinco anos, lembro que uma vez assisti o espetáculo chamado ‘O Casamento da Baratinha’ e nesse espetáculo ele chamou dez crianças para brincarem no palco. Eu corri e pedi para que ele me escolhesse. Assim que eu pisei no palco foi algo muito mágico, virei para a plateia para ver onde a minha mãe estava. Quando vi aquele tanto de luz e holofotes eu pensei: ‘Meu Deus do céu, que coisa incrível. É isso que eu quero para a minha vida’”.
Completa ainda: “Para mim, o Teatro Amazonas é um marco na história do teatro. Conhecido não só nacionalmente, mas também internacionalmente, não é à toa que pessoas de todos os lugares vem para conhecê-lo. Nós termos esse teatro lindo e maravilhoso construído no meio da floresta só mostra que aqui preservamos a cultura local. O sonho de todo ator que faz teatro em Manaus é um dia poder se apresentar no Teatro Amazonas. É uma grande referência”.
Com seus mais de 100 anos de história e desde sempre preservado, Erismar compara a estrutura do Teatro com a própria história do teatro, ressaltando que “ele mostra que, independentemente de crises, dificuldades, do não reconhecimento do teatro e das poucas oportunidades para os artistas, ele permanece ali firme e forte passando por todas as evoluções”.
Para ela, esse é o simbolismo do Teatro Amazonas: “Mostrar que podemos não ser tão reconhecidos e nem ter tantas oportunidades, mas que não devemos desistir nunca. Essa é a inspiração que o Teatro nos passa, que independente do vento, da chuva e do tempo, ele tá ali firme, forte e seguro”.
Para a atriz e produtora Maria Auxiliadora Catão, mais conhecida como Bitta Catão, a relação com o Teatro Amazonas é tão significativa que pretende passar para a sua filha, Maria Flor Catão, que tem 11 anos e já trabalha como atriz.
“A minha relação com o Teatro é de uma história para vida e quero passar para minha filha. Assim como eu já subi no palco do Teatro Amazonas para representar o filme e me apresentar numa peça de teatro quero que ela tenha a mesma emoção que eu tive. É um monumento histórico da nossa cidade que se tornou um relacionamento profissional para muitos e sonhos realizados de outros, e daqueles que ainda sonham. O Teatro Amazonas tem uma importância significativa pois resgata a memória do município e possibilita a tentativa de vislumbre de parte do cotidiano daqueles que construíram aquele monumento”, compartilhou.
Praia da Ponta Negra: complexo turístico da Paris dos Trópicos
O Complexo Turístico da Ponta Negra reúne esporte, lazer e turismo em um só lugar e é um dos principais e mais belos cartões-postais da cidade. Por ser uma cidade conhecida pelas altas temperaturas, Manaus não poderia ficar sem ter acesso a uma praia gratuita. Localizada às margens do rio Negro, Praia da Ponta Negra é um passeio imperdível para quem deseja se refrescar e aproveitar a brisa ao ar livre.
“Fazemos tudo para que os nossos visitantes possam se sentir tranquilos para contemplar a natureza, olhar o nosso rio e curtir as praias de uma forma tranquila e segura. A Ponta Negra é um local de lazer, de descontração e eu posso até dizer que de muito acolhimento”, explicou o subcoordenador, Cesar Freitas.
Com um extenso calçadão, iluminação noturna, anfiteatro e espaços ao ar livre, o complexo turístico oferece conforto e segurança como área para estacionamento e restaurantes com comidas típicas.
Há alguns anos, o local funcionava apenas quando o nível das águas estava mais baixo, mas atualmente funciona diariamente, com atrações para toda a família. O calçadão, por exemplo, é frequentado por moradores locais e turistas durante o dia e à noite.
O Vanguarda do Norte conversou com a historiadora Liviane Azevedo Cativo, de 32 anos, ressaltou que essa alta presença do público no local ocorre em decorrência do ponto turístico ser a única praia banhável e gratuita, disponível no perímetro urbano.
“A população tem facilidade de acesso através de transporte público. Lembro que um tempo atrás existia o Passe Livre aos domingos para quem ia a Ponta Negra e víamos mais pessoas de outras zonas da cidade acessando o local. No domingo de eleições, inclusive, houve uma maior quantidade de pessoas por lá”, disse.
Muitos permissionários (vendedores autorizados pela prefeitura) fazem da Ponta Negra o seu ambiente de trabalho, como é o caso do Patrik Sérgio de Aguiar, de 48 anos, que trabalha com o aluguel de bicicletas e triciclos, utilizados em dias de Faixa Liberada e no decorrer da semana.
Patrik participou da licitação para trabalhadores que buscam comercializar no complexo turístico. “Aqui, eu tiro minha única renda. Sou trabalhador do local e ganhei a licitação em 2016. É um lugar que me dá muito prazer em trabalhar, onde me sinto seguro. Vejo a Ponta Negra como um ambiente agradável e familiar”, explicou Patrik, que é formado em Mecânica e começou a trabalhar na Ponta Negra em 2013 para fazer renda complementar.
Irineu Pedro Tauscher, 55 anos, empresário do ramo de brinquedos infláveis, considera o local um oásis em meio ao tumulto proporcionado pela capital amazonense. Para o empresário, trabalhar na Ponta Negra é uma das melhores experiências que tem vivenciado.
“Para mim é sempre muito agradável, pois é onde eu sustento minha família. Além disso, é um espaço muito bom para trabalhar por conta das áreas do calçadão em que você pode passear com a sua família. O pôr-do-sol da praia, na minha opinião, é o mais bonito do Brasil”, declarou.
jornalista e criadora de conteúdo Eduarda Vitória Moraes, 23 anos, vê na Ponta Negra uma oportunidade de se exercitar ao ar livre e em contato com a natureza.
“É maravilhoso poder praticar esportes contemplando a vista do rio. Aproveito a faixa liberada, para esse momento ao ar livre, com mais espaço e pessoas na mesma sintonia de se sentir minimamente saudável, seja fazendo caminhada ou passeando de bicicleta”, comentou Eduarda Vitória.
A consultora de vendas Juliana Serra, 23 anos, retomou a patinação após passar por crises de ansiedade e passou a enxergar a modalidade como uma terapia e a Ponta Negra, como um consultório.
“Costumo patinar duas vezes na semana ou sempre que estou livre. É algo terapêutico. Gosto demais da paisagem, por ser um lugar que une todas as classes sociais, seja somente para correr, passear com a família, praticar algum esporte ou, até mesmo, dar um mergulho no rio”, comentou.
Para promover a prática esportiva, o projeto Faixa Liberada, da Subsecretaria Municipal de Juventude, Esporte e Lazer (Semjel), é realizado nas quartas-feiras (das 17h às 21h), e aos domingos (8h às 12h).
O projeto consiste na liberação de uma das faixas da Avenida Coronel Teixeira para que os pedestres façam atividades físicas e aproveitem o momento de lazer.
O Complexo Turístico da Ponta Negra também oferece espaços como a pista de Skate, academia ao ar livre e quadras de streetball (basquete de rua), que passaram por uma reforma recentemente. A pista de skate recebeu grafismos e terá grafiteiros para finalizar as artes, dando mais vida e colorido ao espaço.
A Ponta Negra também é palco de inúmeros eventos culturais gratuitos. Em 2014, o evento Fifa Fan Fest, da Copa do Mundo, foi realizado lá e trouxe shows nacionais e locais gratuitos, além de transmitir todos os jogos da Copa do Mundo no Brasil.
Em 2019, a 22ª edição do “Boi Manaus” reuniu mais de 65 mil brincantes, que ao som do ritmo amazônico “dois pra lá, dois pra cá” celebraram os 350 anos de Manaus.
Conhecida pelo maior Réveillon da região Norte, anualmente, parte da população manauara se junta na Ponta Negra para comemorar a chegada do Ano Novo. O anfiteatro é palco de shows locais e nacionais e as pessoas se concentram na faixa de areia para apreciar a tradicional queima de fogos que tem duração de 10 minutos, em média.
Mercado Adolpho Lisboa: símbolo da Belle Époque em Manaus
Quem anda pelas ruas do centro de Manaus pode contemplar um cenário de uma arquitetura antiga, onde cada uma delas tem a sua história. A Belle Époque em Manaus, período de grande desenvolvimento e riqueza por mais de 30 anos, graças à exploração da borracha, foi responsável por esse cenário de construções, com influências da arquitetura francesa, que hoje mistura o antigo com o moderno.
Por esse motivo, ficou conhecida como a “Paris dos Trópicos”, com legado cultural. O Mercado Municipal Adolpho Lisboa é um desses símbolos culturais mais emblemáticos do Amazonas. Recebeu esse nome em homenagem ao prefeito da época. O complexo arquitetônico reúne modernidade e história presente em cada detalhe da obra.
Localizado às margens do Rio Negro, no Centro histórico, o “Mercadão” é um local onde o manauara se reencontra com sua própria cultura, por ser um elemento de identidade da história regional.
Com 140 anos de história, o mercado começou a ser reformado desde 2006 e foi entregue em 2013, na gestão do prefeito Arthur Virgílio Neto, como parte das comemorações do aniversário dos 344º anos de Manaus.
Artista contemporâneo amazonense nascido em Autazes (a 111 quilômetros de Manaus), Otoni Mesquita é um artista plástico reconhecido por seu trabalho como professor e pesquisador. Em uma pesquisa, Otoni conseguiu reunir elementos que resultaram no livro “Mercado Adolpho Lisboa: História e Arquitetura”, lançado em 2019.
“O mercado foi inaugurado na década de 1880, depois de várias tentativas de construir outros mercados. Foi a segunda grande obra da província. A primeira foi a Igreja Matriz, em 1878”, revelou Mesquita.
“No final da década de 1980, houve a implantação do projeto ‘Manaus Moderna’ que cercou o mercado com uma estrada e interrompeu a relação que havia com a praia do mercado, onde também havia comércio por meio das feiras, além das embarcações que aportavam. Mas, mesmo depois da Zona Franca, com o surgimento dos mercadinhos e dos supermercados, o nosso Mercadão continua animado até 2006, quando foi fechado para uma reforma”, pontuou Otoni.
Para o historiador, a recuperação do Mercadão foi determinante para que se tornasse um grande atrativo turístico.
Com tanto tempo fechado, o ‘Manaus Moderna’ ficou com todo o movimento que havia no Adolpho Lisboa. E com sua reinauguração, virou mais local para turistas que vão passear ou fazer compras. Com uma variedade de ervas, produtos naturais, produtos da Amazônia e restaurantes, o Mercado Adolpho Lisboa é um lugar onde guarda suas tradições.
O Adolpho Lisboa é considerado uma réplica do Les Halles, antigo mercado de Paris, que leva a assinatura de Gustave Eiffel, mesmo arquiteto da Torre Eiffel e da Estátua da Liberdade.
No entanto, Otoni ressalta que, por mais semelhantes que sejam, o Mercadão não é exatamente uma réplica.
“O mercado de Paris é um modelo que se reproduz no mundo todo, mas não é uma réplica. Pelas imagens que se tem do mercado francês, eu não diria que é uma réplica, sem contar que a origem dele não é francesa. De qualquer forma, essa produção de ferro e vidro era comum nos países como a França, Inglaterra e Bélgica”, explicou.
Doutora em Turismo e Hotelaria, Cláudia Araújo de Menezes Gonçalves Martins ressalta que o mercado é uma representação da identidade local.
“Todo mercado representa a sociedade da cidade em que ele está com seus costumes, tradições e inovações. E, para o turismo, é um atrativo muito forte, que estimula o imaginário dos visitantes que, ao visitar o local, se perguntam como foi construído, por que ou por quem”, disse a professora.