Foi o mestre e amigo Demosthenes Carminé filósofo dos mais destacados desta cidade e membro efetivo da Academia Amazonense de Letras que me indicou o programa de rádio que nascia naquele ano de 2003 sob o comando de Ana Rita Antony “Um programa onde se conjugava o prazer da música genuína”. Melodias clássicas e nacionais recentes que se impregnam no íntimo da gente.
Nada de lixo musical. Como a TV com os “reality shows”. O programa “SEMPRE AOS DOMINGOS” de Ana Rita, se adequa aos de bom gosto musical. São escolhidos a dedo, por ela própria para apresentá-las perfazendo 20 anos no passado mês de abril. Desde “Rosa” “Tu és divina e graciosa estatua majestosa… regravadas por cantoras da atualidade. Ou aquela …Eu quero paz de criança dormindo… quero a ternura de mãos se unindo para enfeitar a noite de meu bem…” que reputo como uma das mais belas. A abertura do programa com “Mona Lisa (Nat King Cole) já evidencia seu paladar apurado, com o fecho do insuperável Sinatra remete a nós de imediato o seu perfil de exigência da qualidade.
Seu ecletismo musical tem muito a ver com a do mestre, filósofo Carminé. Este além de ter publicado três livros de filosofia um deles o “Mito, Inconsciente e Imaginário” de 2004, o qual tive a honra de prefaciar, não se atinha apenas a reflexões filosóficas mas deixava-se embalar pela memorialística da cidade de Manaus no que concerne ao trabalho musicista “Um chão cheio de Estrelas” (sobre o programa musical “Carrossel da Saudade” – TV Cultura) e “Terezinha Morango – A Cinderela Amazônica” (os dois livros contextualizados com as épocas).
Evocou emoções e ternuras quando escolheu a música preferida de seu pai, para ser tocada na Sala do Pensamento Amazônico da Academia Amazonense de Letras. Seu pai Aristophano Antony, jornalista de méritos, fundador do jornal “A Tarde” um erudito e suas belíssimas crônicas de abertura no diário vespertino. Isso o levou por certo à categoria da imortalidade na Academia de Letras. Ana Rita, escolheu a valsa DIME QUE SI do mexicano Pedro Vargas, só inerente à alma dos poetas para fazer voejar as notas musicais mais queridas de seu pai no silogeu na data em que se festejava o centenário de seu nascimento. Repito ele evocou emoções e ternuras com toques de poetismo que o sangue, herança paterna, já lhe havia transmitido irreversivelmente.
O programa radialístico tem poetismo em duplicidade. Sim, porque. Santo Agostinho dizia “Quem canta, reza duas vezes”. E eu afirmo ao escolher a dedo e com os poros da alma e as fibras do coração as músicas, ela está poetizando duas vezes! Reza uma lenda que os monges de um mosteiro, tinham por hábito subir ao mirante do convento, à tardinha com o fim de capturar o brilho da primeira estrela a despontar no céu. Era a Vésper. A estrela vespertina. O magnetismo do seu refulgir, nas suas almas, bastava para garantir um amanhecer glorioso. Símbolo da perseverança. Pois é a última a recolher-se ao alvorecer. Mas de brilho próprio. Ela sozinha.
Um ponto de luz no firmamento. E nós aqui do mirante tentando capturar o magnetismo de suas cintilações para vigor de nossas almas. Ela é a Vésper. Ou Ana Rita como o queiram. E cintila… E sempre aos domingos.
Ps: Este artigo não é apologético mas feito da transparência dos vitrais que a luz do sol atravessa.