Nos últimos dias, fiz leituras de duas obras acadêmicas que elevam o ensino de filosofia na educação básica brasileira. O texto “Desaulando a prática pedagógica, de autoria dos pesquisadores Lauro Carlos Wittmann, Osmar Miola e Mária Osmar Moais, expõe uma nova prática na relação histórica do processo de conhecimento, superando a cultura do professor-ensinador e negando a educação como mero instrumento de formação de mão-de-obra para o mercado capitalista ou como meio para instruir cidadão com a cultura burguesa cristã, em que o docente é o detentor do conhecimento e o aluno apenas o receptor das obrigações sociais. Os pesquisadores defendem uma prática revolucionária de mediação pedagógica centralizada, também, no discente e que promova autonomia intelectual, com isso, tornando o aluno e professor sujeitos do processo do conhecimento.
Eles entendem que a educação escolar é identificada apenas como um processo histórico que vem de acúmulo de conhecimento, de técnicas e de métodos que acaba engessando o ensino e estabelecendo normas que nem sempre servem para a conquista de autonomias e de uma educação libertadora.
No entanto, é possível mudanças nesse movimento histórico da prática da educação, porque a educação já foi concebida como responsável por transmitir aos mais jovens os valores sociais, funcionando apenas como instrumento de passagem de valores de uma geração para outra; depois como mecanismo de formação de mão-de-obra para o mercado de trabalho ou como meio para construção de cidadãos para um mundo burguês e cristão. Agora, tudo está posto em discursão, em especial, a formação dos docentes, os métodos de ensino utilizados e uma nova relação entre os sujeitos do conhecimento, uma mediação realmente humana.
Dentro da formação do profissional da educação, é preciso docentes comprometidos com uma nova forma de educação, uma formação humana, de mediação pedagógica. Profissionais dispostos a romper com a velha tradição da educação bancária e velhas crenças. Existem hoje duas concepções de educação: a primeira está calcada na figura do professor e no programa, no conteúdo e no padrão tradicional; a segunda, tem como alicerce a parceria entre aluno e professor, tendo o aluno como centro da mediada prática pedagógica. A segunda opção é mudancista, mas é preciso formação docente com uma perspectiva de mediador da formação humana.
A dúvida no processo de conhecimento é o elemento importante e motivadora do conhecimento e da busca da autonomia dos discentes. Hoje a prática pedagógica repulsa quem pergunta ou quem lança dúvidas, com plena submissão aos livros didáticos, com respostas pré-estabelecidas. Porém, há imposição do tempo histórico de romper com dogmas para que a prática desaulada “extirpe a ilusão da certeza” e provoque a dúvida como instrumento dialético e de crescimento humano.
Outro livro, denominado de “Como ensinar filosofia? O desafio do filósofo-educador”, de autoria de Mauricio Abdala – mostra os desafios que os filósofos-educadores possuem no exercício da docência no Ensino Médio a partir da formação acadêmica e das diretrizes nacionais da educação e dos parâmetros curriculares do País.
Ele destaca que são importantes os materiais didáticos e as metodologias de ensino, porém, Abdala argumenta que não existe ensino de filosofia sem reflexão na ação do homem e na condução do ensino pelo filósofo-educador, uma “práxis educativa efetiva”, num saber que está sempre em movimento ao longo da história da filosofia e como imensas novidades.
A filosofia não seria museu e nem esoterismo. É, e muito, um saber reflexivo. Nesse sentido, ele afirma que a obra é para contribuir com o ensinar numa perspectiva filosófica e pedagógica, respondendo duas perguntas: o que ensinar? E como ensinar? Para definir filosofia o autor usa o conceito que consta no PCN+ Ciências Humanas, como “reflexão crítica a respeito do conhecimento e da ação” e “como fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas”.
Pois bem, as duas obras indicam a educação como instrumento revolucionário, formadora de pessoas com autonomias e sujeitos pensantes, uma nova forma de relação entre as pessoas no processo de conhecimento, num mundo cheio de desafios e em constante mudança.
Por Carlos Santiago