Normalmente falamos sobre os impactos da inatividade física na saúde, mas hoje vamos trazer o quanto ela pesa no bolso, tanto no orçamento familiar quanto no sistema de saúde pública. Ser sedentário não só aumenta a as chances de doenças crônicas como também gera um custo astronômico para família e bilionário para a economia brasileira.
Segundo o estudo “Implicações socioeconômicas da inatividade física: panorama nacional e implicações para políticas públicas”, coordenado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, Atividade Física e Exercício da Universidade Federal Fluminense (UFF), as internações relacionadas com o sedentarismo custaram ao SUS aproximadamente R$ 290 milhões em 2019. Valor apenas ligados às doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares, que têm forte relação com a falta de atividade física e síndrome metabólica que não para de crescer.
De forma global, os números são também alarmantes, a Organização Mundial da Saúde (OMS), aponta que 47% dos brasileiros não atingem os níveis mínimos recomendados de atividade física, colocando o país entre os mais sedentários da América Latina. No mundo todo, 27,5% dos adultos e 80% dos adolescentes são fisicamente inativos, contribuindo para o aumento expressivo dos gastos com tratamentos, incluindo câncer, obesidade e doenças cardíacas.
Mesmo com essas estatísticas preocupantes, os investimentos em esporte e lazer no Brasil ainda estão bem distantes do que seria ideal, e seguimos com bilhões em gastos no tratamento de doenças ligadas à inatividade física, apenas 0,024% do orçamento federal é destinado a políticas públicas de incentivo ao movimento. Isso significa que a cada R$ 1.000,00 investidos pelo governo, menos de 25 centavos vão para programas de promoção da atividade física.
De acordo com a análise de dados da Base de Informações Municipais do IBGE (BIM-IBGE), 88% dos municípios brasileiros possuem algum tipo de programa ou iniciativa esportiva, mas apenas 26,4% têm programa voltado para inclusão social em comunidades carentes e 16,8% tem programas para pessoas com deficiência. Isso nos mostra que, quando há investimentos, eles não chegam de forma eficiente e de maneira equitativa às populações mais vulneráveis.
Os números deixam claro que estamos investindo no lugar errado, enquanto país e também como família não estamos criando uma cultura de movimento e saúde. Em vez de direcionar recursos para a prevenção, incentivando a população a se movimentar, gastamos bilhões tratando as consequências do sedentarismo e não estamos educando as gerações futuras a mudança perigoso quadro.
Todas evidências científicas apontam para a solução solução serem, públicas eficazes, que tornem a prática de atividades físicas mais acessível, fomentar a cultura do movimento nas familias e parte do dia a dia da população. Prevenir é sempre mais barato, e mais eficaz do que tratar.
Vanguarda do Norte: Qual é a relação entre a prática regular de atividades físicas e a redução nos gastos com medicamentos?
Dr. Amaral: A prática regular de atividades físicas é uma das estratégias mais eficazes para a prevenção e o controle de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes tipo 2, obesidade e dislipidemias. Exercitar-se atua diretamente na regulação das funções metabólicas, melhora a circulação sanguínea, diminuindo processos inflamatórios e fortalecendo o sistema imunológico, levando a menor necessidade de usar medicamentosas. Estudos apontam que indivíduos fisicamente ativos tem menos necessidades de consultas médicas, menor taxa de hospitalizações e menor uso de fármacos para controle de condições crônicas.
Movimentar-se tem impacto positivo na saúde, com redução no consumo de medicamentos que reflete diretamente na economia individual e nos gastos do sistema de saúde pública, diminuindo a sobrecarga financeira causada pelo tratamento de doenças preveníveis. Em outras palavras, movimentar-se é uma forma eficaz e acessível de investir na própria saúde e na “economia familiar”.
VDN: Como o sedentarismo impacta os gastos públicos em saúde?
Dr. Amaral: O sedentarismo é um dos principais fatores de risco para as doenças crônicas não transmissíveis, a exemplo da hipertensão, diabetes tipo 2, obesidade e doenças cardiovasculares. No Brasil, os custos diretos com cuidados de saúde decorrentes da inatividade física chegam a quase US$ 4 bilhões ano, impactando diretamente o orçamento do Sistema Único de Saúde (SUS) segunda a Agência Gov. Estudos apontam que as internações associadas ao sedentarismo custaram foram um dos custos que deram impacto financeiro não apenas ao setor público, pois o aumento dos casos de doenças crônicas diminui a produtividade da população, gerando mais afastamentos do trabalho e aumentando os custos com previdência social e benefícios como auxílio-doença. Portanto, além de sobrecarregar os hospitais e elevar os gastos com medicamentos, o sedentarismo afeta a também a economia familiar. Investimentos em políticas públicas que incentivam a atividade física não é apenas uma questão de saúde, mas também uma decisão e estratégia econômica essencial para diminuir a demanda por tratamentos médicos e otimizar os recursos do sistema de saúde.
VDN: Quais são os benefícios econômicos de se investir em programas de atividade física?
Dr. Amaral: O investimento em programas de atividade física gera benefícios econômicos importantes tanto para a pessoa, famílias, quanto para o sistema de saúde pública, prática regular de exercícios reduz a incidência de doenças crônicas não transmissíveis, diminui a necessidade de tratamentos médicos, internações e uso de medicamentos. Estudos da FAPEAM, mostram que a promoção da atividade física gerara uma economia de até 36% nos custos com o tratamento da hipertensão arterial. Vale lembrar que, o incentivo ao movimento reduz o número de afastamentos do trabalho por doenças relacionadas ao sedentarismo, melhorando a produtividade e diminuindo, absenteísmos, os gastos com previdência social e auxílio-doença. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que inatividade física custa à economia mundial cerca de US$ 54 bilhões por ano em despesas médicas diretas e mais de US$ 14 bilhões em perdas de produtividade. No Brasil, os custos com tratamentos de doenças associadas ao sedentarismo chegam a quase US$ 4 bilhões anuais segundo Agência Gov.
VDN: Como tornar a atividade física mais acessível para a população em geral?
Dr. Amaral: Para que a atividade física faça parte da rotina das pessoas,a acessibilidade ao movimento depende de iniciativas tanto do setor público quanto do privado, tornando a prática de exercícios uma opção viável e atraente para todas as faixas etárias e classes sociais, estratégias eficazes:
Criação e revitalização de espaços públicos parques, praças e ciclovias bem estruturadas incentivam a prática gratuita de atividades físicas ao ar livre. Projetos como as “academias ao ar livre” são exemplos de sucesso em diversas cidades brasileiras.
Incentivo ao transporte ativo, melhorias na infraestrutura para pedestres e ciclistas, como a construção de ciclovias e a ampliação de calçadas seguras, ajudam a mobilidade ativa no dia a dia, reduzindo a dependência de veículos motorizados.
Programas gratuitos e acessíveis políticas públicas como o “Academia da Saúde” do SUS oferecem espaços com profissionais capacitados para orientar treinos e exercícios adaptados à população.
Incentivos para empresas e escolas, em ambiente corporativo, empresas podem oferecer benefícios como academias internas, convênios com centros esportivos e pausas ativas para incentivar os funcionários a se movimentarem. Já nas escolas, A EDUCAÇÃO FÍSICA DEVE SER VALORIZADA, com espaços adequados para a prática esportiva e programas que incentivem o gosto pelo movimento desde a infância.
Campanhas de conscientização e incentivo à mudança de hábitos, podem mostrar que pequenas mudanças no dia a dia, como trocar o elevador pela escada ou caminhar até o trabalho, fazem diferença para na saúde. Fazer a atividade física ser acessível é um investimento de baixo custo com alto e com retorno, quanto mais fácil for para a população se movimentar, menores serão os índices de sedentarismo e, consequentemente, os gastos com saúde pública. O movimento deve ser tratado como um direito de todos, e não um privilégio.
VDN: Qual é o papel das empresas na promoção da saúde por meio do incentivo à atividade física?
Dr. Amaral: As empresas desempenham um papel fundamental na promoção da saúde de seus colaboradores e, consequentemente, na redução dos impactos do sedentarismo na sociedade. Funcionários fisicamente ativos apresentam menor índice de absenteísmo, maior produtividade e menos afastamentos por doenças crônicas, ambiente de trabalho que incentiva a atividade física contribui para o bem-estar mental e emocional dos profissionais, reduzindo o estresse e melhorando o engajamento, estratégias que as empresas podem adotar para incentivar o movimento entre seus colaboradores incluem:
Academias e espaços para exercícios: Empresas de médio e grande porte podem oferecer academias internas ou áreas dedicadas à prática de exercícios físicos, como alongamento e ginástica laboral. Parcerias com academias e clubes esportivos: Convênios e subsídios para academias, studios de pilates ou centros esportivos tornam mais acessível a prática de exercícios regulares. Ginástica laboral e pausas ativas: Sessões curtas de alongamento e exercícios durante o expediente ajudam a reduzir dores musculares, prevenir lesões e melhorar a concentração.
Campanhas internas de incentivo à atividade física: Desafios de caminhada, competições esportivas entre setores e grupos de corrida ou ciclismo estimulam o espírito de equipe e criam um ambiente mais saudável.
Flexibilização da jornada de trabalho: Empresas que permitem horários mais flexíveis ou oferecem benefícios como intervalos para atividades físicas contribuem para a adesão dos funcionários a uma rotina ativa.
Infraestrutura para transporte ativo: Estacionamentos para bicicletas, vestiários com chuveiros e incentivos para quem vai ao trabalho a pé ou de bicicleta são medidas eficazes para incentivar a mobilidade ativa. O impacto positivo dessas iniciativas vai além dos benefícios individuais. A universidade de Harvard fez estudo com resultado demonstrando que empresas que investem na saúde de seus colaboradores observam uma redução de até 27% nos custos com planos de saúde corporativos e uma queda de até 25% nos afastamentos por motivos de saúde, portanto, promover a atividade física dentro do ambiente corporativo não deve ser visto como um custo, mas sim como um investimento estratégico que melhora a qualidade de vida dos colaboradores, reduz os gastos com saúde e aumenta a produtividade organizacional.
VDN: Quais são os custos comparativos entre tratamentos medicamentosos e programas de atividade física?
Dr. Amaral: Os tratamentos medicamentosos para doenças crônicas, como hipertensão e diabetes tipo 2, geram gastos gigantes, em contraste, da atividade física atua na prevenção e controle dessas condições, reduzindo em até 50% a necessidade de medicamentos, a OMS estima que cada US$ 1 investido em atividade física gera um retorno de até US$ 3,20 na economia de custos com saúde, no Brasil, o sedentarismo custa quase US$ 4 bilhões anuais em despesas médicas segundo a Agência Gov. Além disso, políticas de incentivo para o movimento podem reduzir em até 36% os custos com hipertensão. Investir no movimento hoje significa economizar em saúde amanhã!
VDN: Como a sociedade pode ser incentivada a adotar um estilo de vida mais ativo?
Dr. Amaral: Para combater o sedentarismo, é fundamental investir em políticas públicas e ações que facilitem a prática de atividades físicas no dia a dia. Algumas estratégias eficazes incluem: Melhoria da infraestrutura urbana. Programas gratuitos de incentivo ao exercício, como o “Academia da Saúde” do SUS. Campanhas educativas, conscientizando sobre os benefícios do movimento e mostrando que pequenas mudanças, como caminhar ou usar escadas, fazem diferença. Incentivos no ambiente de trabalho, como pausas ativas, parcerias com academias e flexibilização de horários. Maior investimento na educação física escolar, garantindo que crianças e adolescentes desenvolvam o hábito do movimento desde cedo. Essas ações, sao o caminho para reduzir os índices de inatividade física, melhorar a saúde da população e diminuir os custos com tratamentos médicos no futuro.
O sedentarismo é um fardo que não carregamos sozinhos e não só no corpo, mas também de forma coletiva e afeta na economia e na sociedade. Enquanto gastamos bilhões tratando doenças evitáveis, temos investimos insuficientes naquilo que realmente poderia preveni-las: O MOVIMENTO. Devemos focar naquilo que está sob nosso controle, e a decisão de nos movermos é uma delas.
Devemos ser proativos, a melhor postura é de não esperar que políticas públicas resolvam tudo sozinhas, podemos sim cobrar investimentos mais inteligentes, mas a população deve também fazer bom uso dos equipamentos existentes, a cada US$ 1 investido em atividade física, há um retorno de até US$ 3,20 em economia de custos com saúde segundo a OMS, e ainda assim, continuamos escolhendo o caminho mais caro, tratando doenças ao invés de preveni-las.
A natureza nos fez para movimentarmos, porém nos entregamos por exemplo ao conforto do controle remoto e à inércia do sofá, pagando um preço alto por isso. A boa saúde exige esforço, disciplina e um compromisso pessoal diário. O corpo forte sustenta uma mente forte, e ambos são essenciais para enfrentarmos os desafios da vida com resiliência.
Se queremos uma sociedade mais saudável e economicamente sustentável, precisamos começar por nós mesmos adotando uma postura mais racional e proativa. Como dizia Sêneca, “A vida sem esforço é uma morte prematura.” O movimento não é apenas uma escolha, mas um dever, com nós mesmos e com as futuras gerações.
Movimente-se este fim de semana com sua família e até a próxima.
Dr. Ricardo Amaral Filho (@amaralfilho)
Mestre em Educação e Saúde | Médico de Família e Comunidade | Medicina do Esporte