A dengue é uma das doenças tropicais mais prevalentes em todo o mundo, tendo milhões de casos registrados todos os anos. No Brasil, o Aedes aegypti, mosquito responsável pela transmissão do vírus da dengue, tem as condições ideais para sua reprodução por nosso clima quente e úmido, à urbanização e à presença de água parada em ambientes domésticos.
Nos últimos anos temos tido número de casos importantes da doença, gerando um impacto importante na saúde pública, que pode ir de uma forma leve e autolimitada até quadros graves, como a dengue hemorrágica e a síndrome de choque da dengue, que chegam ser fatais se não forem identificados e tratados.
O mais importante de não esquecer é que apesar da gravidade, a dengue pode ser prevenida com medidas simples, como a eliminação dos criadouros do mosquito e a vacinação.
Neste artigo, responderemos às principais dúvidas sobre da doença, explicando seus sintomas, diagnóstico, tratamento e, como prevenir sua transmissão de maneira eficaz.
Vaguarda do Norte: O que é a dengue e como ocorre a sua transmissão?
Dr. Amaral: A dengue é uma doença viral causada pelo vírus da dengue (DENV), que possui quatro “tipos” diferentes chamados de sorotipos (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4). A infecção ocorre quando uma pessoa é picada pela fêmea do mosquito Aedes aegypti, que contaminado pelo vírus ao se alimentar do sangue de um doente.
O mosquito Aedes aegypti é urbano, com hábitos diurnos, se reproduz em locais com água parada, como pneus, caixas d’água destampadas, vasos de plantas e recipientes descartados. Depois de infectado, o mosquito pode transmitir o vírus ao longo de toda a sua vida.
Lembrar que diferente de outras viroses, a dengue não é transmitida diretamente de pessoa para pessoa apenas com registros raros de transmissão vertical (de mãe para filho durante a gestação) e por transfusão sanguínea.
VDN: Quais são os principais sintomas da dengue e como diferenciar os casos leves dos graves?
Dr. Amaral: Os sintomas da dengue podem ir de leves a graves e normalmente aparecem entre 4 e 10 dias após a picada do mosquito infectado. A manifestação clínica pode ser dividida em dengue clássica (ou leve) e dengue grave (com sinais de alarme ou hemorrágica) com as seguintes características:
Dengue Clássica (Leve):
Febre alta e repentina (acima de 38,5°C).
Dor de cabeça (cefaleia) intensa.
Dor muscular e articular (mialgia e artralgia).
Dor atrás dos olhos (dor retro-orbital).
Fadiga intensa e mal-estar.
Náuseas e vômitos.
Manchas vermelhas na pele (exantema) em alguns casos.
Dengue com Sinais de Alarme:
Dor abdominal intensa e contínua.
Vômitos persistentes.
Tontura ou desmaio ao se levantar (hipotensão postural).
Sangramento espontâneo (gengivas, nariz, fezes escuras ou vômito com sangue).
Dengue Grave (Hemorrágica ou com Choque):
Extravasamento grave de plasma, levando à queda de pressão e choque circulatório.
Hemorragias importantes, com sangramentos na pele e mucosas.
Confusão mental, palidez, extremidades frias.
Redução da diurese (urina escura ou diminuída ou ausente).
Os sinais de alarme indicam a evolução para uma forma mais grave da doença e necessita de atendimento médico imediato. O reconhecimento precoce é fundamental para evitar complicações.
VDN: Qual a diferença entre a dengue clássica e a dengue grave, e quais são os sinais de alerta que indicam a necessidade de atendimento emergencial?
Dr. Amaral: A dengue clássica é a forma mais leve da doença e geralmente se manifesta com febre alta, dor de cabeça, dores musculares e nas articulações, fadiga intensa. A maioria dos casos é tratada com hidratação e repouso, sem necessidade de internação.
A dengue grave ocorre quando há extravasamento de plasma, podendo levar a queda de pressão, choque circulatório e hemorragias significativas, sendo uma emergência médica.
À população deve este atenta aos principais sinais de alerta que indicam risco de complicação e necessidade de atendimento imediato:
Dor abdominal intensa e contínua.
Vômitos persistentes (três ou mais episódios seguidos).
Sangramentos espontâneos (gengivas, nariz, fezes escuras ou vômito com sangue).
Tontura, desmaios ou confusão mental (indicativos de hipotensão ou choque).
Extremidades frias e pele pegajosa (sinais de choque circulatório).
Dificuldade para respirar.
Redução ou ausência de urina por mais de 6 horas (podendo ser falência renal).
Qualquer um desses sinais exige atendimento emergencial imediato! A evolução da dengue grave pode ser rápida, e a hidratação venosa, quando iniciada precocemente, pode evitar complicações fatais e salvar vidas.
VDN: Como é feito o diagnóstico da dengue?
Dr. Amaral: O diagnóstico é baseado na clínica e apoiado com exames laboratoriais. O médico pode solicitar:
Hemograma completo → para verificar plaquetas e hematócrito.
Teste NS1 → detecta o vírus nos primeiros 5 dias da doença.
Sorologia IgM e IgG → confirma a infecção após o 6º dia.
PCR para Dengue → exame molecular para casos duvidosos.
VDN: Existe tratamento específico para a dengue?
Dr. Amaral: Não há um tratamento antiviral específico para a dengue.
O manejo é no alívio dos sintomas e na prevenção de complicações. As principais recomendações:
Hidratação intensa (líquidos, soro caseiro e soro venoso em casos graves).
Repouso absoluto.
Uso de paracetamol ou dipirona para febre e dor (não usar AAS e anti-inflamatórios, pois aumentam o risco de sangramento).
Monitoramento médico, especialmente em casos graves.
VDN: Quem tem dengue pode pegar a doença novamente?
Dr. Amaral: Sim. Como existem quatro sorotipos do vírus da dengue, uma pessoa pode ser infectada até quatro vezes.
Vale lembrar que a segunda infecção tende a ser mais grave, pois o organismo já teve contato com outro sorotipo e pode reagir de forma mais agressiva.
VDN: A vacina contra a dengue já está disponível no Brasil?
Dr. Amaral: Sim! O Brasil já disponibiliza a vacina Qdenga, que protege contra os quatro sorotipos do vírus. Ela é indicada para pessoas entre 4 e 60 anos, feita em duas doses com intervalo de três meses. A vacinação é uma das estratégias para reduzir casos graves e hospitalizações.
VDN: Quais são as medidas mais eficazes para prevenir a dengue e reduzir a proliferação do mosquito Aedes aegypti?
Dr. Amaral: A prevenção da dengue é sinônimo de combate ao mosquito e criadouros. depende de ações de cada pessoa e coletivas para eliminar o mosquito Aedes aegypti, combatendo criadouros interrompe-se seu ciclo de vida. Como o mosquito se reproduz em locais com água parada, pequenas atitudes podem ter um grande impacto na redução da transmissão da doença.
Principais medidas preventivas:
Eliminar locais de acúmulo de água
Tampar caixas d’água e tonéis.
Manter ralos limpos e telados.
Esvaziar e virar garrafas, baldes e pneus.
Evitar acúmulo de água em vasos de plantas, pratos e calhas.
Medidas de proteção individual e ambiental
Usar telas de proteção em janelas e portas.
Usar repelentes em áreas de alto risco (especialmente gestantes e crianças).
Usar roupas de manga longa e calças em regiões de alta incidência da doença.
Manter o lixo bem fechado e descartá-lo corretamente, pois recipientes descartáveis podem se tornar criadouros do mosquito.
Controle biológico e químico
Aplicação de larvicidas em locais de risco (seguindo recomendações do Ministério da Suade).
Uso de peixes larvófagos (que se comem as larvas do mosquito) em reservatórios de água não potável.
Vacinação contra a dengue
A vacina Qdenga, aprovada no Brasil, protege contra os quatro sorotipos do vírus e é indicada para pessoas entre 4 e 60 anos, em um esquema de duas doses com intervalo de três meses.
ATENÇÃO
Prevenção é o MAIS IMPORTANTE para evitar surtos da doença! A população tem que ser protagonista na eliminação dos criadouros, reduzindo a reprodução do mosquito e, portanto, os casos de dengue.
A dengue ainda é um dos maiores problemas de saúde pública no Brasil e em muitas partes do mundo, principalmente em regiões tropicais. Com o avanço das mudanças climáticas e o crescimento desordenado das cidades, o ambiente para o mosquito se torna cada vez mais favorável para sua proliferação, por isto é essencial a adoção de estratégias eficazes de prevenção, diagnóstico precoce e manejo adequado da doença.
Mesmo a que maioria dos casos de dengue sejam leve, os quadros graves podem evoluir rapidamente para complicações fatais se não forem diagnosticados e tratados de forma precoce. Por isso, a motivação do tema de hoje, é fundamental que médicos e profissionais de saúde estejam atentos aos sinais de alarme e que a população esteja bem informada sobre os riscos, sintomas e formas de prevenção.
A vacinação, juntamente à eliminação de criadouros do mosquito, é uma das estratégias mais eficazes para reduzir a incidência e gravidade da dengue. Todos nós com pequenas atitudes diárias, como evitar água parada, usar repelente e proteger ambientes residenciais e públicos, salvam vidas.
ATENÇÃO
A dengue não é apenas um problema individual, mais bem uma questão coletiva. Proteger-se e contribuir para a redução da transmissão é um dever de todos. Quanto mais informada e engajada estiver a sociedade, menores serão os impactos.
Se apresentar sintomas suspeitos, busque atendimento médico imediatamente e siga as recomendações sempre atento aos sinais de alerta e seja um multiplicador de como combater a Dengue.
Dr. Ricardo Amaral Filho (@amaralfilho)
Mestre em Educação e Saúde | Médico de Família e Comunidade | Medicina do Esporte