A primeira mostra coletiva do projeto “Arte com Toque”, movimentou a manhã desta terça-feira (05/11), nas dependências do Palacete Provincial, na Praça Heliodoro Balbi, Centro de Manaus. Com a temática “A inclusão do Deficiente Visual na Pintura Artística”, a mostra iniciou às 9h e reuniu alunos da Biblioteca Braille que rechearam o espaço cultural com a exposição de trabalhos de pintura feitos com os dedos.
Durante a exposição de artes, foi realizado também o primeiro Desfile de Moda inclusiva para Deficientes Visuais, no qual os próprios artistas tiveram participação na pintura artística dos tecidos. O projeto foi ministrado e realizado pela professora de artes Seanne Oliveira no espaço da Biblioteca Braille e tem curadoria da própria professora.
Este projeto foi contemplado pelo edital de Fomento às Artes da Lei Paulo Gustavo, executado pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa. Há 25 anos, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa vem fomentando a inclusão artística para pessoas com deficiência visual. Foi nesse contexto que nasceu o projeto “Arte com Toque”.
O Gerente da Biblioteca Braille, Gilson Mauro, conta que a ideia foi acolhida com muito carinho e se tornou uma oportunidade na qual os participantes puderam compartilhar suas emoções, ternura e visão de mundo.
“Essa é a maior importância do nosso curso: a pessoa com deficiência está se expressando de uma forma lúdica e amorosa como vê o mundo. Cada tinta, cada cor é uma forma de você dizer que está vivo, que ama” enfatiza Gilson.
Expressão por meio dos dedos
A oficina ministrada pela professora Seanny Oliveira e pela auxiliar Rebeca Ferreira permite que as pessoas expressem suas emoções e coloquem no papel aquilo que veem por meio dos dedos. A professora Seanny, que é formada em Artes Visuais pela Universidade Federal do Amazonas e atua como artista visual há mais de 30 anos, revela que esse projeto é o resultado de seu Trabalho de Conclusão de Curso e que ele reflete sobre a inclusão dos alunos com deficiência visual e baixa visão, dentro da cultura artística.
“Nessas pinturas feitas pelos alunos, resolvemos falar sobre a Amazônia, cada um trouxe em si o que eles queriam projetar no processo das telas”, disse a professora indígena, do povo Mundurucus (população indígena que vive principalmente na região do Alto Tapajós, no estado do Pará, e também em partes do Amazonas e Mato Grosso).
As aulas ocorreram na Biblioteca Braille, com a supervisão do diretor Gilson e da administração da biblioteca. O curso reuniu oito alunos que puderam aplicar seus desenhos em papel cartão e o processo foi evoluindo até chegar, à proposta inicial da oficina, que era a pintura com tinta acrílica sobre tela.
As obras retratam elementos regionais, desde a pescaria ribeirinha ao cotidiano do povo caboclo, o encontro das águas, a beleza da fauna e da flora amazônica.
O evento também contou com a participação do cantor Manoel Passos, do percussionista e instrutor do curso de música do Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro Ronaldo Alves, conhecido por “China”, do flautista e professor de música do Liceu de Artes Miller Batista, e no violão do professor de teclado da Biblioteca Braille, Guilherme Munhoz. O grupo executou músicas regionais com um toque de samba, com os sucessos como “Não mate a mata”, “Domingo de Manaus”, “Amazonas Moreno” e o “Amor está no ar”.
Desfile de moda
Também fez parte da programação, o primeiro Desfile de Moda Inclusiva Para Deficientes Visuais com tecidos pintados pelos alunos da primeira edição do projeto Arte com Toque, que ocorreu em maio deste ano com a estreia do curso “Arte com Toque – Pintura para pessoas com deficiência e baixa visão”, na Biblioteca Braille do Amazonas.
A artista Suzete Mourão, 52 anos, baixa visão e aluna do curso Arte com Toque pintou uma tela trazendo o encontro das águas, na vida ribeirinha. Suzete relata que desde o momento em que a professora Seanny desenvolveu o projeto voltado para cegos e para pessoas com baixa visão, ela sentiu o desafio em realizar essas atividades, segundo ela, por não saber nada de pintura, precisou começar do zero, culminando na projeção da sua pintura no vestido que a própria utilizou no desfile.
“Foi minha primeira experiência com arte com toque e para mim só resta a gratidão por ter conseguido concluir uma coisa que eu jamais imaginaria fazer”, expressa a artista entusiasmada ao contar que agora está pintando telas com elementos regionais como a arara-vermelha com todo o seu esplendor e cores estonteantes de azul e do verde floresta.