Enquanto bombardeiros americanos B-2 sobrevoavam o Irã, visando instalações nucleares, especialistas do Leste Asiático já estavam lidando com uma questão crítica: que sinal o ataque envia à Coreia do Norte, um país cujo arsenal nuclear é muito mais avançado que o do Irã?
Especialistas alertam que as ações militares de Washington podem fortalecer a determinação de Pyongyang de acelerar o programa de armas da Coreia do Norte e aprofundar a cooperação com a Rússia, além de reforçar a crença de seu líder Kim Jong Un de que o programa nuclear é o impedimento máximo contra a mudança de regime.
Acredita-se que o regime de Kim possua múltiplas armas nucleares, bem como mísseis que podem potencialmente atingir os Estados Unidos — o que significa que qualquer possível ataque militar na Península Coreana acarretaria em riscos maiores.
“A Coreia do Norte percebe o recente ataque aéreo dos EUA como uma ameaça militar preventiva e provavelmente acelerará os esforços para aumentar sua própria capacidade de ataques preventivos com mísseis nucleares”, disse Lim.
Parceria estratégica entre Coreia do Norte e Rússia
Essa aceleração, alertam analistas, pode vir por meio da assistência russa, devido ao crescente relacionamento militar que os dois vizinhos iniciaram após a invasão da Ucrânia por Moscou.
Desde seu estabelecimento formal em 2024, a parceria estratégica da Coreia do Norte com a Rússia se tornou uma salvação econômica e militar vital para Pyongyang em meio às atuais sanções ocidentais.
“Com base na aliança estratégica entre os países, Pyongyang provavelmente avançará em direção ao desenvolvimento conjunto de armas, exercícios militares combinados, transferências de tecnologia e aumento da dependência mútua em termos econômicos e militares”, disse Lim.

A Coreia do Norte enviou mais de 14 mil soldados e milhões de munições, incluindo mísseis e foguetes, para ajudar na invasão da Rússia, de acordo com um relatório da Equipe de Monitoramento de Sanções Multilaterais (MSMT), uma iniciativa composta por 11 membros das Nações Unidas.
Em troca, a Rússia forneceu à Coreia do Norte diversas peças valiosas de armamento e tecnologia, incluindo equipamentos de defesa aérea, mísseis antiaéreos, sistemas de guerra eletrônica e petróleo refinado.
Essas ações “permitem que a Coreia do Norte financie seus programas militares e desenvolva ainda mais seus programas de mísseis balísticos, que são proibidos por várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU, ganhando experiência em primeira mão na guerra moderna”, concluiu o relatório.
Intervenção americana no Irã
Aos olhos de Kim, as recentes ações militares dos EUA no Irã seguem uma lógica preocupante: países sem armas nucleares, como Iraque, Líbia e Irã, são vulneráveis à intervenção liderada pelos EUA, disse Victor Cha, presidente do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais da Coreia do Norte.
Pyongyang já testou seis dispositivos nucleares e desenvolveu mísseis de longo alcance, considera seu “arsenal inegociável”.
Segundo especialista, os bombardeios de Washington contra os ativos nucleares de Teerã provavelmente deixarão uma impressão duradoura no regime de Kim. “Os ataques ao Irã apenas reafirmarão duas coisas para a Coreia do Norte, nenhuma das quais favorece a política dos EUA”, disse ele.
Em primeiro lugar, o especialista diz que os EUA não têm a opção de usar a força para o programa nuclear da Coreia do Norte, como tinham em Israel para o Irã. Segundo, o ataque apenas reafirma na mente de Kim Jong-un sua convicção de buscar e manter um arsenal nuclear.
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Diferenças entre Irã e Coreia do Norte
O contraste entre o Irã e a Coreia do Norte é enorme, particularmente em termos de capacidades nucleares.
“O programa nuclear de Pyongyang é muito mais avançado, com armas possivelmente prontas para serem lançadas em vários sistemas de lançamento, incluindo ICBMs”, disse Leif-Eric Easley, professor de segurança internacional na Universidade Feminina Ewha, em Seul, referindo-se aos mísseis balísticos intercontinentais que podem viajar ao redor do mundo, muito mais longe do que qualquer míssil que o Irã possui.
“O regime de Kim pode ameaçar o território americano, e Seul está ao alcance de muitas armas norte-coreanas de vários tipos”, acrescentou.
O Irã, por outro lado, ainda não desenvolveu uma arma nuclear viável e seu enriquecimento de urânio permanece inferior ao limite para a militarização, de acordo com a última avaliação da Agência Internacional de Energia Atômica.