Um homem resgatado de uma clínica clandestina em Anápolis (GO) descreveu o local como um “inferno”. Na última terça-feira (29), a Polícia Civil resgatou 50 pessoas que eram mantidas em cárcere privado e torturadas no local.
A vítima contou que foi o pior lugar que já esteve na vida
“Tinha gente pra bater nos outros. Lá é um inferno. Eu nunca vi um trem daquele. É o pior lugar que já estive na minha vida”, disse, em entrevista à TV Anhanguera. Os donos do local são um casal de pastores de uma igreja no município, segundo a polícia.
Outro homem, de 53 anos, que também foi resgatado, falou que era tratado feito um “bicho”. “Fui recebido a murro. Me jogaram lá dentro igual se joga um bicho. Fiquei muitos dias lá, e estou começando a tossir, sei que é costela quebrada”, afirmou.
Vítimas eram mantidas trancadas
As vítimas eram homens, com idades entre 14 e 96 anos.
Entre os resgatados havia pacientes com deficiência intelectual, cadeirantes e alguns dependentes químicos. Segundo a investigação, eles foram levados de forma ilegal e involuntária ao local.
As vítimas eram trancadas, em ambiente insalubre, com alimentação precária, sem medicação ou acompanhamento médico e psicológico, conforme explicou a polícia.
Muitas vítimas tinham lesões graves, desnutrição e confusão mental compatível com sedação no momento do resgate.
Para permanecer na clínica, era cobrado no mínimo um salário mínimo por mês de cada paciente. A polícia não explicou, porém, quem pagava o valor, se eram familiares dos internos ou eles mesmos.
Os resgatados foram acolhidos pelos serviços de saúde mental e assistência social da Prefeitura de Anápolis. Alguns dos resgatados precisaram de hospitalização e foram conduzidos pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
O grupo que não precisou ser hospitalizado foi conduzido para o estádio de Anápolis, onde recebeu alimentação, higiene e primeiros socorros. As vítimas foram identificadas e iniciou-se uma investigação para localizar os familiares.
Donos e funcionários são presos
Seis pessoas foram presas em flagrante. Todos responderão por tortura e cárcere privado qualificado. Um dos envolvidos conseguiu fugir e é procurado pela polícia. Os outros cinco foram enviados para o sistema penitenciário.
O homem, que se identifica como pastor Junior Klaus, está foragido. Já a esposa dele, Suelen Klaus, que é servidora da Companhia Municipal de Trânsito e Transporte foi presa durante a operação, disse delegado Manoel Vanderic à TV Anhaguera.